
X: Indo.
VALÉRIO: Cadê o entusiasmo?
X: Ah, sei lá...tô de cara.
VALÉRIO: Dá pra ser mais específico?
X: O clima daquela empresa é uma merda. Às vezes, eu me sinto numa arena, cercado de gladiadores. Tô estagiando num departamento em que todo mundo ataca todo mundo e todo mundo se defende de todo mundo. E esse é o clima que rola em toda a empresa. É muito sinistro...a neura é geral.
VALÉRIO: O pessoal do andar de cima deve ser bem estressado.
X: Cara, o meu chefe, por exemplo, é um alucinado. É um reizinho e só desce do trono pra mijar todo mundo.
VALÉRIO: Na verdade, ele é só um repassador de mijadas.
X: Como assim?
VALÉRIO: Os reizinhos são mijados pelos reis, os caras que estão acima dos reizinhos no organograma do reino. Os reis são mijados pelos deuses, os presidentes das empresas. Os deuses, por sua vez, são mijados pelos nobres acionistas.
X: E os nobres acionistas, não são mijados por ninguém?
VALÉRIO: São, sim. Os nobres acionistas são mijados por um monte de gente.
X: Por quem?
VALÉRIO: Por esposas, amantes, filhos, credores, serviçais, proprietários de boutiques caras, de restaurantes da moda, de hotéis 5 estrelas, de revendas de carros de luxo, enfim, os nobres acionistas serão mijados por muita gente, se a grana deles não render.
X: É muito xixi pro meu gosto...
VALÉRIO: É... como diria Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos.