terça-feira, 8 de junho de 2010

Caminhando e contando.

Uso inteligente do Google.

Desensino formal

Saí do desensino formal com ferimentos leves, mesmo depois de ficar 10 mil e tantas horas preso nas suas ferragens: professores despreparados, mal-remunerados e desestimulados, doses cavalares de conhecimento inútil, ambientes idiotizantes, hostilidade à inovação e processos geradores de adultos condicionados a um pensamento-cambão baseado no senso comum e na tradição. Sempre acreditei na possibilidade de um ensino libertador, não aprisionante. Em 2002, o empresário Ricardo Semler fundou em São Paulo a Lumiar, “uma escola que valoriza a aprendizagem significativa, a convivência democrática e a autonomia de cada indivíduo.” Semler não sabe, mas lavou a minha alma.

O apagão

Dia desses, li um estudo realizado, no ano passado, pela revista The Economist e patrocinado pela Dell e pela Fedex. A publicação americana entrevistou 192 executivos sênior na América Latina (32% no Brasil). A maioria dos entrevistados apontou a falta, tanto de “hard skills” (habilidades técnicas) como de “soft skills” (habilidades sociais) entre os jovens. Segundo eles, o grande problema não são as hard skills. Estas habilidades podem ser facilmente ensinadas e mensuradas. O que os executivos apontam com o maior de todos os problemas são as soft skills (habilidades sociais), dificílimas de ensinar e de mensurar. Quais são as principais soft skills mencionadas pela maioria dos executivos no estudo da Economist? Pensamento crítico, liderança, capacidade de interpretar corretamente e de solucionar problemas, facilidade para construir relacionamentos e flexibilidade para trabalhar com diversidade cultural e em ambientes corporativos fortemente marcados pela incerteza e pela velocidade das mudanças. E o apagão da mão de obra no Brasil começa a tirar o sono do empresário brasileiro pós-globalizado. A necessidade de rever o modelo de ensino do nosso país está na pauta de empresários, economistas, políticos e de alguns educadores.

Pais e mestres

Como vocês sabem, não sou professor, sou provocador. Isto, talvez, explique a facilidade com que acesso o pensamento dos jovens. Chego lá, sempre através do diálogo. Em nossas longas conversas, não há donos do saber. Não explico, encorajo. Pergunto e escuto atentamente as suas respostas. Respeito e valorizo os meus interlocutores. Em troca, eles dividem comigo as suas percepções. Acho que ganho mais do que eles nestas trocas. Quase sempre descubro pensamento novo, além de novas e extraordinárias maneiras de explicar o mundo em que vivemos. Por isso, lamento muito a ausência dos jovens no debate sobre a construção de um modelo de ensino capaz de iluminar o apagão da mão de obra brasileira. Como sempre, eles não serão consultados. Afinal, isto continua sendo assunto para pais e mestres.

Afinal, as pessoas têm fome de quê?

Recentemente, uma das maiores empresas brasileiras do setor varejista realizou pesquisa entre os seus mais de 10 mil funcionários. O estudo revelou que a remuneração estava longe de representar a maior preocupação da maioria. “Dar sentido à vida” e “alcançar realização pessoal” apareceram em primeiro lugar e demonstraram que a não satisfação de tais anseios estava na raíz dos elevados índices de turn-over da empresa. Pergunta ao pessoal de gestão de pessoas: faz sentido?

O que há de errado com a felicidade?

A pergunta foi feita pelo psicanalista Michael Rustin e o professor Zygmunt Bauman utilizou-a como título da Introdução de seu livro “A arte da vida” (Editora Zahar). Para Rustin a busca dos seres humanos pela felicidade pode muito bem se mostrar responsável pelo seu próprio fracasso. Segundo ele, praticamente todos os relatórios de pesquisa que examinou, comprovaram que “as melhoras nos padrões de vida em nações como Estados Unidos e Grã-Bretanha não estão associadas a um aumento – e sim a um ligeiro declínio – do bem-estar subjetivo.” Isto quer dizer que as estratégias de tornar as pessoas mais felizes, aumentando suas rendas, não funcionam?"

O prazer de fazer bem feito.

O professor Zigmunt Bauman acredita que, quando os efeitos antes atingidos graças a nossa engenhosidade, dedicação e habilidade, foram terceirizados, por exemplo, numa engenhoca que exige apenas sacar um cartão de crédito e apertar um botão, algo que fazia as pessoas felizes e, provavelmente, era vital para a felicidade de todos, se perdeu pelo caminho: o orgulho pelo “trabalho bem feito”, pela destreza, astúcia e habilidade (...) A longo prazo, as habilidades um dia adquiridas, e a própria capacidade de aprender a dominar novas habilidades, são esquecidas e perdidas, e com elas se vai a alegria de satisfazer o instinto de artífice, esta condição vital para a auto-estima, tão difícil de ser substituída, juntamente com a felicidade oferecida pelo respeito por si mesmo.

Na sua opinião

Você acredita que possa haver correlação entre o desempenho de uma empresa e a felicidade de seus funcionários? Você conhece muitas empresas de sucesso. Conhece alguma empresa feliz? Quantos gestores são verdadeiramente apaixonados pelo que fazem? Quantos têm habilidade de transmitir esta paixão à equipe? Quantos têm espírito coletivista, firmeza moral e a certeza de que não possuem todas as respostas prontas? Quantos continuariam exercendo os seus ofícios, depois de ganhar um prêmio da Megasena? Você concorda com a afirmação do físico e consultor de empresas Clemente Nobrega de que a maioria das organizações produz mais calor (atrito e abafamento) do que luz (felicidade e realização pessoal)?