sexta-feira, 17 de julho de 2009

Xixi corporativo.

VALÉRIO: Como vai o estágio?
X: Indo.
VALÉRIO: Cadê o entusiasmo?
X: Ah, sei lá...tô de cara.
VALÉRIO: Dá pra ser mais específico?
X: O clima daquela empresa é uma merda. Às vezes, eu me sinto numa arena, cercado de gladiadores. Tô estagiando num departamento em que todo mundo ataca todo mundo e todo mundo se defende de todo mundo. E esse é o clima que rola em toda a empresa. É muito sinistro...a neura é geral.
VALÉRIO: O pessoal do andar de cima deve ser bem estressado.
X: Cara, o meu chefe, por exemplo, é um alucinado. É um reizinho e só desce do trono pra mijar todo mundo.
VALÉRIO: Na verdade, ele é só um repassador de mijadas.
X: Como assim?
VALÉRIO: Os reizinhos são mijados pelos reis, os caras que estão acima dos reizinhos no organograma do reino. Os reis são mijados pelos deuses, os presidentes das empresas. Os deuses, por sua vez, são mijados pelos nobres acionistas.
X: E os nobres acionistas, não são mijados por ninguém?
VALÉRIO: São, sim. Os nobres acionistas são mijados por um monte de gente.
X: Por quem?
VALÉRIO: Por esposas, amantes, filhos, credores, serviçais, proprietários de boutiques caras, de restaurantes da moda, de hotéis 5 estrelas, de revendas de carros de luxo, enfim, os nobres acionistas serão mijados por muita gente, se a grana deles não render.
X: É muito xixi pro meu gosto...
VALÉRIO: É... como diria Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

MBA ou o sono dos justos?

X: Vou fazer um MBA.
VALÉRIO: Porquê?
X: Por que preciso decolar...
VALÉRIO: Um vôo panorâmico pela cidade não seria mais útil?
X: Engraçadinho…
VALÉRIO: Desculpe, mas você está me dizendo que, se fizer um MBA, vai decolar na sua profissão, é isto?
X: É o que dizem.
VALÉRIO: Quem diz?
X: Todo mundo...
VALÉRIO: Então, todo mundo que faz MBA decola na profissão?
X: Cara, força de expressão!!!
VALÉRIO: Põe força nisso...
X: Quero ser um profissional diferenciado...

VALÉRIO: E vai fazer o que todo mundo faz... qual a sua idade?
X: 27
VALÉRIO: Está trabalhando?
X: Estou.
VALÉRIO: No quê?
X: No departamento de Marketing de uma grande empresa.
VALÉRIO: Há quanto tempo?
X: Dois anos.
VALÉRIO: A Direção da empresa sugeriu ou exigiu que você fizesse um MBA?
X: Não.
VALÉRIO: Você sabe quanto custa um MBA.
X: Uma grana...
VALÉRIO: Algo na faixa dos 30, 40 paus, com duração de um ano e meio, dois anos.
X: Caro, né?
VALÉRIO: O One Day MBA deve ser mais barato...
X: One Day MBA???
VALÉRIO: É, este curso tem duração de um dia e, na saída, o aluno leva um DVD. O anúncio deste prodígio pedagógico foi publicado em vários jornais de grande circulação.
X: Bom, tem picaretagem em qualquer área.
VALÉRIO: Mas, vamos em frente: quanto tempo você fica no departamento de Marketing da sua empresa?
X: O dia inteiro.
VALÉRIO: Você não tem contato com os clientes da empresa?
X: Muito pouco.
X: Me corrige, se eu estiver errado: você passa a maior parte do seu tempo na empresa, escrevendo e disparando e-mails, recebendo fornecedores, acessando o MSN, visitando sites da concorrência, participando de reuniões intermináveis, tomando litros (provavelmente de um café horrível) e, claro, pensando em como tirar o seu da reta se der alguma merda no departamento, certo?
X: Não é bem assim...
VALÉRIO: Mas também não é muito diferente...

X: É...
VALÉRIO: Honestamente, eu acho que você não precisa de MBA.
X: O que você sugere?
VALÉRIO: Ao invés de pedir licença do chefe pra fazer o MBA, diga a ele que, de agora em diante, você vai ficar fora do departamento três ou quatro dias da semana. Diga que você vai visitar os clientes da empresa para conhecê-los melhor. Diga que você quer visitá-los para perguntar, observar, entender como eles funcionam. Que você não quer mais apenas as respostas filtradas pela área comercial. Diga que você tem um sonho: quer ser um profissional de marketing diferenciado, quer decolar na profissão. E que, ao invés de pedir uma licença da empresa pra fazer um MBA, você prefere fazer calo nos pés, prefere levar mijada de cliente insatisfeito e que precisa ver a empresa em que você trabalha de um ângulo que o departamento de marketing, por incrível que pareça, não consegue ver. Ah, aproveite e diga também que você deseja mudar a sua rotina: gostaria de terminar o expediente com o terno suado e amarrotado, chegar em casa, exausto, tomar uma ducha, comer alguma coisa leve, cair na cama e dormir o sono dos justos.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Divã, por que não?

IPSILON: Tô procurando um coach.
VALÉRIO: É mesmo? Pra quê?
IPSILON: Preciso de orientação... não tô entendendo um monte de coisas.
VALÉRIO: Por exemplo?
IPSILON: Tô sentindo um monte de coisas estranhas.
VALÉRIO: Diz uma.
IPSILON: Por exemplo, batalhei pra conseguir um estágio numa agência de propaganda. Qualquer estagiário de Comunicação daria a vida por uma vaga nesta agência. Eu estou lá há seis meses. Os caras adoram o meu trabalho e querem me efetivar... carteira assinada e tudo...
VALÉRIO: E?
IPSILON: E não sei se quero continuar trabalhando lá. Aliás, não sei se quero trabalhar em Propaganda. Também não sei se quero continuar o curso de Comunicação.

VALÉRIO: Que idade você tem?
IPSILON: Esse é o problema! Cara, eu vou fazer 25 anos e ainda não tenho a menor idéia do que eu quero fazer na vida.
VALÉRIO: E por que você está procurando um coach?
IPSILON: Pra entender o que está acontecendo comigo? Cara, eu tô perdido.
VALÉRIO: Darwin também se sentiu assim, depois de criar a Teoria da Evolução... IPSILON: Pô, eu tô falando sério.
VALÉRIO: Eu também.
IPSILON: Eu tô com uma puta sensação de vazio, entende?
VALÉRIO: Claro que entendo. Eu só não entendi o coach?
IPSILON: Até onde eu sei coach orienta...
VALÉRIO: É aí que mora o perigo.

IPSILON: Não entendi.
VALÉRIO: Não levo fé nesta "new discipline". Aliás, este é mais um modismo corporativo que logo, logo vai pra lixeira.
IPSILON: O que você sugere?
VALÉRIO: Um psiquiatra.
IPSILON: PSIQUIATRA???
VALÉRIO: Cara, uma das características do nosso tempo é estar sempre acontecendo alguma coisa. A vida da gente passa por zilhões de retomadas, alternâncias e mudanças. E vivemos uma permanente oscilação entre o pessimismo e o otimismo, a depressão e a excitação, o abatimento e a euforia, o sentimento de vazio – tipo esse que você está sentindo – e os projetos mobilizadores. O moral da gente se transformou num ioiô.
IPSILON: Então?
VALÉRIO: Então, o que eu quero dizer é que isto que você está sentindo não é nada do outro mundo. Ao contrário, é algo bem deste mundo de hoje.
IPSILON: Saber disso não vai mudar o que eu estou sentindo.
VALÉRIO: Não, não vai. Você tem que se proteger deste toró hipermoderno.

IPSILON: Como???
VALÉRIO: Sugiro uma solução muito antiga. Aliás, há 2.400 anos já tinha gente propondo esta mesma solução.
IPSILON: Fala logo...
VALÉRIO: Autoconhecimento.
IPSILON: Autoconhecimento?
VALÉRIO: O velho e bom conhece-te a ti mesmo.
IPSILON: E a gente chega no autoconhecimento com a psiquiatria?
VALÉRIO: Também. A terapia é uma viagem pra dentro de você mesmo.
IPSILON: Não tinha pensado nisso...
VALÉRIO: O caminho até o autoconhecimento é punk.

IPSILON: Por quê?
VALÉRIO: Porque a informação que pode explicar os nossos comportamentos, os nossos vazios, dores e prazeres; a informação que realmente vale a pena ser acessada está muito bem-guardada (escondida) dentro de nós. Somos como os aviões: os dados que explicam os nossos acidentes de percurso também estão armazenados em caixas pretas. Quando abrimos as nossas caixas pretas, entendemos o que acontece conosco. Quando entendemos, geralmente, corrigimos. E, quando corrigimos, nos sentimos mais seguros e muito menos vulneráveis às inevitáveis chuvas e trovoadas da vida.



Diálogo 1

Z: Não sei o que fazer da minha profissional.
VALÉRIO: Que idade você tem?
Z: 18
VALÉRIO: Isso me tranquiliza.
Z: Porque?
VALÉRIO: Eu tenho 56 e ainda tenho dúvidas.
Z: !!!!
VALÉRIO: Ficou desapontada?
Z: Fiquei.
VALÉRIO: Porque?
Z: Por que com 56 não dá mais pra ter esse tipo de dúvida...
VALÉRIO: Porque?
Z: Ué, por que a maioria das pessoas da tua idade não tem dúvidas...
VALÉRIO: O que te faz ter tanta certeza disso?
Z: Sei lá...é a lógica.
VALÉRIO: Lógica?
Z: Sei lá, os coroas que eu conheço não têm este tipo de dúvida. O meu pai e a minha mãe, por exemplo, não têm dúvidas quanto à profissão.
VALÉRIO: Você tem certeza?
Z: Eles pelo menos nunca me disseram...

VALÉRIO: ...nunca deixaram transparecer?
Z: Acho que nunca.

Diálogo 2

VALÉRIO: O que você entende por profissão?
Z: Profissão é trabalho.
VALÉRIO: E trabalho?
Z: Uma maneira de ganhar dinheiro.
VALÉRIO: Só isso?
Z: Como assim, só isso?
VALÉRIO: Você sabe o que é vocação?
Z: Hmmm
VALÉRIO: A palavra vem do latim – vocare – e quer dizer “chamar”. Vocação é um chamado e vem de dentro da gente. É um sentimento que nos garante que existe uma coisa bela, bonita e verdadeira para a qual a gente quer entregar a vida.
Ipsilon: Pois é, eu não sei qual é a minha vocação.
Valério: Talvez você não tenha condições, neste momento, de saber o que ama e está sofrendo por causa disso.
Z: E não é pra sofrer com isso?
VALÉRIO: Digamos que você esteja certa e que os teus velhos não têm dúvida quanto à profissão que exercem. Certamente nenhum dos dois trabalham apenas pra ganhar dinheiro. Para eles, o trabalho deve ter uma porção de outros significados.
Z: Como assim?
VALÉRIO: É muito chato e penoso trabalhar só pra ganhar dinheiro, pra ficar rico ou pra posar de "profissional bem-sucedido". Como diria Rubem Alves, a profissão é uma ordem religiosa com papa, bispo, catacismo e inquisições. Ou você se entrega como uma religiosa ou corre o risco de passar a vida frustrada, estressada e infeliz, até que um dia vai querer chutar o pau da barraca, largar tudo e viver numa praia longe do trabalho. Você tem namorado?

Z: Tenho.
VALÉRIO: Você acha que ele é o grande amor da sua vida?
Z: Bah, não sei.
VALÉRIO: Você acha que é cedo pra saber e não pensa em casar com ele, certo?
Z: Certo.
VALÉRIO: Você aceita a idéia de que um grande e verdadeiro amor pode demorar pra aparecer na tua vida.
Z: Hã, hã!
VALÉRIO: Você não sofre com esta dúvida?
Z: Não.

VALÉRIO: Ou seja, você aceita o fato de que é preciso tempo pra encontrar um grande amor. Você se acha muito jovem pra ter certeza de que o seu atual namorado é o cara, mas se considera velha pra ainda ter dúvidas quanto a outro grande amor da sua vida: a sua profissão.
Z: Alguma sugestão?
VALÉRIO: Pensa menos na profissão e mais no amor.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Theodore Levitt


Você está lendo Kotler? Muito chato, é ou não é? Quando li Philip Kotler pela primeira vez, lembrei das incontáveis noites de 6a. feira, brutalmente assassinadas, durantes as aulas de dois soníferos professores de quem fui aluno na faculdade, naquele distante 1978. Você quer ler sobre Marketing, é isto? Já leu Theodore Levitt? Se ainda não leu, aqui vai uma sugestão: ponha este Kotler no modo Pause por alguns dias. Tente, por exemplo, “Marketing para Desenvolvimento de Negócios” (talvez, você encontre um exemplar em algum sebo). Theodore Levitt publicou este livro em 1974. Você vai se surpreender com a atualidade do texto. A obra de Levitt não é didática. Os seus textos têm estilo, alma e geram reflexão. Por isso, digamos que você esteja em plena batalha por uma vaga em algum departamento de Marketing, leia Theodore Levitt. Está começando o seu próprio negócio, leia Theodore Levitt. Agora, vamos supor que você seja um experiente gestor de Marketing adepto dos raciocínios dedutíveis e colecionador de verdades e certezas absolutas. Você, provavelmente, despreza a intuição, as visões proféticas, tem uma fé inabalável no bom-senso e na ordem, e acha que “pensar incomoda como andar à chuva”*. Neste caso, não leia Levitt. Você não vai gostar. Dê Play nesse Kotler, aí, na sua cabeceira, e vá em frente.

* Frase do poema "O guardador de rebanhos" - Fernando Pessoa (Alberto Caeiro).

Campeões em tudo.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. / Toda a gente que eu conheço e que fala comigo /
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho / Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida... / Quem me dera ouvir de alguém a voz humana / Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia / Que contasse, não uma violência, mas uma covardia! / Não, são todos o ideal, se os ouço ou me falam. / Quem há neste largo mundo que confesse que uma vez foi vil? / Arre, estou farto de semideuses! / Onde é que há gente no mundo?

* Trechos do “Poema em linha reta” – Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
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sábado, 14 de março de 2009

Artigo publicado no Jornal O Popular - Goiânia.

O tataravô do marketing.

Adam Smith (1723-1790) é o tataravô do marketing. Senão, vejamos: a noção de soberania do consumidor nasceu com ele, assim como a idéia de que o lucro depende da livre concorrência e que ele - o lucro - só se justifica se atender às necessidades da sociedade consumidor). Smith bateu insistentemente na tecla de que só é merecedor do lucro, o que o economista André Singer definiu como "a remuneração do risco", aquele que melhor servir à sociedade. E mais: vence a concorrência quem não se restrinje apenas a vender pelo menor preço.

As idéias de Smith orientaram os puritanos ingleses que migraram para a América, em meados do século 17. De uma certa forma, ajudou-os na construção das bases do capitalismo americano e, provavelmente, da mentalidade marqueteira rapidamente incorporada ao dia a dia daquele país.


Em 1886, Richard Sears, na época agente ferroviário na estação de Minneapolis and St. Louis, e Alvah Roebuck, relojoeiro de Indiana, iniciaram um negócio totalmente orientado para o mercado. A idéia da dupla era vender qualquer coisa – de armas a fogões – por reembolso postal. O principal objetivo do empreendimento: atender mercados potencialmente consumidores, em todas as regiões dos Estados Unidos. Em 1895, o catálogo da empresa tinha 532 páginas e, em 1904, a empresa ocupava, em Chicago, o maior edifício comercial do mundo.

Em 1881, James Buchnan Duke tinha um pequeno negócio de tabaco em Durham, na Carolina do Norte. Descobriu uma engenhoca capaz de produzir 125 mil cigarros por dia e passou a produzir mais cigarros do que o mercado era capaz de fumar. O que ele fez? Fundou uma empresa de marketing para aumentar a demanda.

Em 1877, George Eastman não inventou apenas uma máquina fotográfica barata. Ele inventou o fotógrafo amador e um formidável mercado para seus filmes. Mas, acima de tudo, ele acabou proporcionando a milhões de pessoas, por preços muito convidativos, o prazer de registrar flagrantes, os bons momentos de suas vidas.

Em 1914, a Harvard Business School oferecia cursos de marketing com o objetivo de consolidar a idéia de que empresas existem para entender e atender mercados. Somente por volta de 1950, a disciplina chegou ao Brasil. Durante muito tempo, pronunciamos erradamente o seu nome e a confundimos com publicidade, com propaganda ou com as duas coisas.

No Brasil, mantemos uma relação de amor e ódio com o marketing. A maioria das nossas empresas ainda corta drasticamente
investimentos em marketing, sempre que se anuncia alguma turbulência na economia do país. Mas o que dói mesmo é ouvir a todo o momento a voz do povo: "esse cara não sabe nada, é puro marketing”. Ou, “esse produto é uma porcaria, é só marketing”. E ainda, “Fulano deu uma tacada de marketing".

As enormes deformações do nosso capitalismo, as sucessivas reservas de mercado e a presença do Estado, o paizão intrusivo e voraz com quem ainda somos obrigados a conviver, são grandemente responsáveis pela inexistência de uma sólida cultura de marketing em nosso país.
Até hoje, muitos empresários duvidam da eficácia do marketing. Nunca leram os sábios conselhos do Vovô Adam.


Imagem: Vi no Talk to Himself Show.

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quarta-feira, 11 de março de 2009

Artigo publicado no portal Baguete.

Tempo.

Não sabemos dizer não. Também não sabemos dizer sim. Temos tempo e espaço de sobra. Você esqueceu? Somos continentais, privilegiados, abençoados. Somos esta gente gentil, desapegada e pura. Temos tudo, menos dinheiro. Dinheiro é bom, mas é feio. Então, nada nos falta, nada nos faltará. Simpatizamos com a falta de objetividade e gostamos de jogar conversa fora, junto com o lucro, que, além de feio, é pecaminoso. Objetividade é coisa de americano. Americano sabe valorizar o tempo, mas, como você sabe, não é feliz. Nós somos felizes. Deus é nosso conterrâneo. Viva o escurinho das gavetas e o silêncio das postergações. Viva a barriga que empurra. Você é muito ansioso. Não entendo porque tanta pressa. Preste atenção, vou falar pela última vez: quando você enviar, por exemplo, uma proposta de trabalho para alguém, saiba que este alguém não será objetivo. Não. O tempo, este nosso recurso sempre renovável, vai passar, passar, passar, até que aquele alguém se disponha a lhe dizer que sim ou que não. Sob tortura.

Palestra Sinplast na Manhã da Qualidade.


Os dirigentes do Comitê Setorial das Indústrias do Plástico me convidou para palestrar na oitava edição da Manhã da Qualidade, realizada pela entidade na Fiergs. Foi um dos eventos em que me senti mais à vontade. Falei sobre Planejamento Estratégico. Adoro esta disciplina. Na minha opinião, trata-se da mais instigante da Administração moderna. A abordagem (Onde você vê o futuro da sua empresa?) foi criada em parceria com o pessoal da Fábrika de Comunicação e foi um tremendo sucesso. Nos posts, a seguir, a opinião de um dos presentes ao evento e cópia do artigo que escrevi para a Revista do Sinplast em que faço uma síntese do modo como abordei o Planejamento Estratégico.

Artigo para Revista do Sinplast.

O caminho dos tijolos amarelos.

Um dos livros mais fascinantes que eu li na minha infância foi O Mágico de Oz. A mais conhecida obra de Frank Baum, conta a história de Dorothy, uma menina que vive uma experiência fantástica: um dia, um tornado levanta a sua casa e, quando finalmente volta ao chão, a personagem percebe que, inexplicavelmente, foi parar em outro mundo.


Agora, ela está no colorido e mágico País dos Munchkins. Lá, ela conhece o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Dorothy constata que cada um deles têm um problema específico e que todos esperam encontrar soluções mágicas. Dorothy deseja voltar para casa. O Leão Covarde quer ter coragem. O Homem de Lata busca um coração e o Espantalho, um cérebro. Os quatro descobrem que a solução dos seus problemas está em Esmeralda, a cidade do País dos Munchkins, onde vivia o todo-poderoso Mágico de Oz. Mas, para chegar lá eles têm que fazer uma longa caminhada por uma estrada de tijolos amarelos (Elton John, inspirado na obra de Baum, escreveu uma canção intitulada Yellow Brick Road).


Voltando à história: quando os quatro personagens chegam à Esmeralda, têm uma terrível decepção: o Mágico de Oz era um engodo, uma fraude. E a decepção só não foi maior por que eles descobrem que os seus problemas foram solucionados durante o trajeto até Esmeralda. E como eles conseguiram isto? Simplesmente, pensando e trocando impressões verdadeiras sobre si mesmos. Ou seja, a viagem ou o mergulho para dentro de si mesmo mostrou ser a única “mágica” capaz de trazer respostas verdadeiras ao homem.


A viagem exigiu dos quatro coragem, inteligência, desprendimento e emoção. Assim também é o Planejamento Estratégico. Planejar estrategicamente uma empresa é aventurar-se numa longa e fascinante viagem.


A minha experiência tem me mostrado que o mais importante do Planejamento Estratégico não é o documento que ele gera no final do trabalho. O mais importante é o processo, a jornada, as inúmeras reuniões em que a empresa se autoinvestiga, mostra-se por inteiro e abre-se inteira para o novo. Sem máscaras e medo.


O Planejamento Estratégico permite que tenhamos uma visão consideravelmente maior da realidade. É a disciplina da Administração moderna mais instigante, desafiadora e multidisciplinar que eu conheço. Entre outras coisas, ele pode destruir a devastadora expectativa que todos temos, em maior ou menor graus, de ver nossos problemas de gestão resolvidos com passes de mágica.


O Planejamento Estratégico também é, portanto, um caminho de tijolos amarelos que nos leva ao formidável mundo da racionalidade.

Umbigo Rei - O case


A Banricoop é a Cooperativa de Crédito Mútuo dos Funcionários do Banrisul. A instituição tem 62 anos e é uma das mais sólidas do setor do cooperativismo de crédito no Brasil. O personagem Umbigo Rei foi criado para servir como elemento de comunicação dirigida no ano em que a Banricoop completou 60 anos. O projeto foi criado em conjunto com as equipes da Banricoop (Cirilo Thomas, Miriam Cecchin e Luciane Rotta), da Editora Artes&Ofícios (Luiz Fernando e Camila Kieling), da Radioativa (Marcelo Figueiredo) e de um grupo de profissionais de teatro (Cláudia De Bem - Direção), Liane Venturella (Produção) e Mirco (iluminação e som). A seguir, alguns detalhes do case.

Umbigo Rei - As fontes


Umbigo Rei, os inspiradores.

Sérgio Buarque de Holanda, autor do magistral ensaio Raízes do Brasil afirma: “à frouxidão da estrutura social, à falta de hierarquia organizada devem-se alguns dos episódios mais singulares da história das nações hispânicas, incluindo-se nelas Portugal e o Brasil. Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou a indolência displicente das instituições e costumes. As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram continuamente no sentido de separar os homens, não de os unir. A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno”.

Umbigo Rei - A palestra-show.


A palestra-show “Umbigo Rei no país dos umbigóides” conta com ironia e bom-humor uma breve história do individualismo nacional. Escrevi o texto depois de reler Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Caio Prado Júnior e Roberto DaMatta. O personagem Umbigo Rei é um umbigóide típico, destes que a gente encontra com frequência, furando as filas dos supermercados, abrindo latas de refrigerante e embalagens de balas nas sessões de cinema ou tentando levar vantagem em tudo, sempre que possível. É um típico herdeiro das formas de convívio e das idéias que portugueses e espanhóis trouxeram para o Brasil. A palestra-show “Umbigo Rei no país dos umbigóides” aborda o imediatismo, o utilitarismo e o individualismo tupiniquim. Foi apresentada para associados da Banricoop, funcionários do Banrisul e convidados especiais, em Porto Alegre, no Teatro Bruno Kiefer e no auditório da Livraria Cultura, em Pelotas, no Teatro da Universidade Católica, em Rio Grande, no Teatro Avenida.

Umbigo Rei - O livro.


A ação institucional da Banricoop culminou com o convite a 17 autores de renome nacional para que respondessem a seguinte pergunta: Umbigo é nosso rei? Em 30 dias, recebemos artigos, poemas, ensaios e crônicas o que resultou na publicação de uma coletânea intitulada “Umbigo é nosso rei?”. Participaram do livro: Affonso Romano de Sant'Anna, Celso Gutfreind, Cláudia Laitano, David Coimbra, Diana Corso, Eliane Brum, Fabrício Carpinejar, Juremir Machado da Silva, Leonardo Brasiliense, Luís Augusto Fischer, Luiz Antonio de Assis Brasil, Luiz Carlos Merten, Marcelo Carneiro da Cunha, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Moacyr Scliar e Tatata Pimentel. Umbigo é nosso rei? foi editado pela Artes&Ofícios e teve uma tiragem de 5.000 exemplares. Uma parte desta tiragem foi comercializada nas principais livrarias do país.