quarta-feira, 12 de maio de 2010

Picaretagem

Uma edição dominical do jornal O Estado de São Paulo contém mais informação do que uma pessoa poderia receber e assimilar, durante 40 anos, se vivesse no século 17. No final do século 19, havia cerca de 200 revistas científicas disponíveis no mundo inteiro. Hoje, são mais de 100.000. Até o início dos anos 90, um brasileiro de classe média podia acessar menos de dez canais de televisão. Hoje, ele pode ter mais de cem, em diversas línguas, com diferentes especializações. Boa parte desta formidável produção de conteúdo é mumbo jumbo, expressão inglesa que serve para designar ideias complicadas que não dizem absolutamente nada. Em bom português: picaretagem. Para o jornalista britânico Francis Wheen, a essência do mundo contemporâneo, pode ser assim resumida: mumbo jumbo. O conteúdo picareta tem comprometido o bom senso e endeusado banalidades em áreas como a política, os negócios, a cultura de massa e outras. No seu livro “Como a Picaretagem Conquistou o Mundo” (Ed. Record), Wheen dispara contra alguns gurus da nossa história recente. Em 1982, por exemplo, Tom Peters alcançou a celebridade quando elegeu num dos seus best-sellers as trinta e nove estrelas do capitalismo americano. Cinco anos e cinco milhões de exemplares vendidos mais tarde, dois terços das empresas indicadas por ele apresentavam desempenho medíocre. Naquela época, você seria linchado, se afirmasse, numa roda de executivos, que Peters era um blefe.