sábado, 14 de março de 2009

Artigo publicado no Jornal O Popular - Goiânia.

O tataravô do marketing.

Adam Smith (1723-1790) é o tataravô do marketing. Senão, vejamos: a noção de soberania do consumidor nasceu com ele, assim como a idéia de que o lucro depende da livre concorrência e que ele - o lucro - só se justifica se atender às necessidades da sociedade consumidor). Smith bateu insistentemente na tecla de que só é merecedor do lucro, o que o economista André Singer definiu como "a remuneração do risco", aquele que melhor servir à sociedade. E mais: vence a concorrência quem não se restrinje apenas a vender pelo menor preço.

As idéias de Smith orientaram os puritanos ingleses que migraram para a América, em meados do século 17. De uma certa forma, ajudou-os na construção das bases do capitalismo americano e, provavelmente, da mentalidade marqueteira rapidamente incorporada ao dia a dia daquele país.


Em 1886, Richard Sears, na época agente ferroviário na estação de Minneapolis and St. Louis, e Alvah Roebuck, relojoeiro de Indiana, iniciaram um negócio totalmente orientado para o mercado. A idéia da dupla era vender qualquer coisa – de armas a fogões – por reembolso postal. O principal objetivo do empreendimento: atender mercados potencialmente consumidores, em todas as regiões dos Estados Unidos. Em 1895, o catálogo da empresa tinha 532 páginas e, em 1904, a empresa ocupava, em Chicago, o maior edifício comercial do mundo.

Em 1881, James Buchnan Duke tinha um pequeno negócio de tabaco em Durham, na Carolina do Norte. Descobriu uma engenhoca capaz de produzir 125 mil cigarros por dia e passou a produzir mais cigarros do que o mercado era capaz de fumar. O que ele fez? Fundou uma empresa de marketing para aumentar a demanda.

Em 1877, George Eastman não inventou apenas uma máquina fotográfica barata. Ele inventou o fotógrafo amador e um formidável mercado para seus filmes. Mas, acima de tudo, ele acabou proporcionando a milhões de pessoas, por preços muito convidativos, o prazer de registrar flagrantes, os bons momentos de suas vidas.

Em 1914, a Harvard Business School oferecia cursos de marketing com o objetivo de consolidar a idéia de que empresas existem para entender e atender mercados. Somente por volta de 1950, a disciplina chegou ao Brasil. Durante muito tempo, pronunciamos erradamente o seu nome e a confundimos com publicidade, com propaganda ou com as duas coisas.

No Brasil, mantemos uma relação de amor e ódio com o marketing. A maioria das nossas empresas ainda corta drasticamente
investimentos em marketing, sempre que se anuncia alguma turbulência na economia do país. Mas o que dói mesmo é ouvir a todo o momento a voz do povo: "esse cara não sabe nada, é puro marketing”. Ou, “esse produto é uma porcaria, é só marketing”. E ainda, “Fulano deu uma tacada de marketing".

As enormes deformações do nosso capitalismo, as sucessivas reservas de mercado e a presença do Estado, o paizão intrusivo e voraz com quem ainda somos obrigados a conviver, são grandemente responsáveis pela inexistência de uma sólida cultura de marketing em nosso país.
Até hoje, muitos empresários duvidam da eficácia do marketing. Nunca leram os sábios conselhos do Vovô Adam.


Imagem: Vi no Talk to Himself Show.

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quarta-feira, 11 de março de 2009

Artigo publicado no portal Baguete.

Tempo.

Não sabemos dizer não. Também não sabemos dizer sim. Temos tempo e espaço de sobra. Você esqueceu? Somos continentais, privilegiados, abençoados. Somos esta gente gentil, desapegada e pura. Temos tudo, menos dinheiro. Dinheiro é bom, mas é feio. Então, nada nos falta, nada nos faltará. Simpatizamos com a falta de objetividade e gostamos de jogar conversa fora, junto com o lucro, que, além de feio, é pecaminoso. Objetividade é coisa de americano. Americano sabe valorizar o tempo, mas, como você sabe, não é feliz. Nós somos felizes. Deus é nosso conterrâneo. Viva o escurinho das gavetas e o silêncio das postergações. Viva a barriga que empurra. Você é muito ansioso. Não entendo porque tanta pressa. Preste atenção, vou falar pela última vez: quando você enviar, por exemplo, uma proposta de trabalho para alguém, saiba que este alguém não será objetivo. Não. O tempo, este nosso recurso sempre renovável, vai passar, passar, passar, até que aquele alguém se disponha a lhe dizer que sim ou que não. Sob tortura.

Palestra Sinplast na Manhã da Qualidade.


Os dirigentes do Comitê Setorial das Indústrias do Plástico me convidou para palestrar na oitava edição da Manhã da Qualidade, realizada pela entidade na Fiergs. Foi um dos eventos em que me senti mais à vontade. Falei sobre Planejamento Estratégico. Adoro esta disciplina. Na minha opinião, trata-se da mais instigante da Administração moderna. A abordagem (Onde você vê o futuro da sua empresa?) foi criada em parceria com o pessoal da Fábrika de Comunicação e foi um tremendo sucesso. Nos posts, a seguir, a opinião de um dos presentes ao evento e cópia do artigo que escrevi para a Revista do Sinplast em que faço uma síntese do modo como abordei o Planejamento Estratégico.

Artigo para Revista do Sinplast.

O caminho dos tijolos amarelos.

Um dos livros mais fascinantes que eu li na minha infância foi O Mágico de Oz. A mais conhecida obra de Frank Baum, conta a história de Dorothy, uma menina que vive uma experiência fantástica: um dia, um tornado levanta a sua casa e, quando finalmente volta ao chão, a personagem percebe que, inexplicavelmente, foi parar em outro mundo.


Agora, ela está no colorido e mágico País dos Munchkins. Lá, ela conhece o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Dorothy constata que cada um deles têm um problema específico e que todos esperam encontrar soluções mágicas. Dorothy deseja voltar para casa. O Leão Covarde quer ter coragem. O Homem de Lata busca um coração e o Espantalho, um cérebro. Os quatro descobrem que a solução dos seus problemas está em Esmeralda, a cidade do País dos Munchkins, onde vivia o todo-poderoso Mágico de Oz. Mas, para chegar lá eles têm que fazer uma longa caminhada por uma estrada de tijolos amarelos (Elton John, inspirado na obra de Baum, escreveu uma canção intitulada Yellow Brick Road).


Voltando à história: quando os quatro personagens chegam à Esmeralda, têm uma terrível decepção: o Mágico de Oz era um engodo, uma fraude. E a decepção só não foi maior por que eles descobrem que os seus problemas foram solucionados durante o trajeto até Esmeralda. E como eles conseguiram isto? Simplesmente, pensando e trocando impressões verdadeiras sobre si mesmos. Ou seja, a viagem ou o mergulho para dentro de si mesmo mostrou ser a única “mágica” capaz de trazer respostas verdadeiras ao homem.


A viagem exigiu dos quatro coragem, inteligência, desprendimento e emoção. Assim também é o Planejamento Estratégico. Planejar estrategicamente uma empresa é aventurar-se numa longa e fascinante viagem.


A minha experiência tem me mostrado que o mais importante do Planejamento Estratégico não é o documento que ele gera no final do trabalho. O mais importante é o processo, a jornada, as inúmeras reuniões em que a empresa se autoinvestiga, mostra-se por inteiro e abre-se inteira para o novo. Sem máscaras e medo.


O Planejamento Estratégico permite que tenhamos uma visão consideravelmente maior da realidade. É a disciplina da Administração moderna mais instigante, desafiadora e multidisciplinar que eu conheço. Entre outras coisas, ele pode destruir a devastadora expectativa que todos temos, em maior ou menor graus, de ver nossos problemas de gestão resolvidos com passes de mágica.


O Planejamento Estratégico também é, portanto, um caminho de tijolos amarelos que nos leva ao formidável mundo da racionalidade.

Umbigo Rei - O case


A Banricoop é a Cooperativa de Crédito Mútuo dos Funcionários do Banrisul. A instituição tem 62 anos e é uma das mais sólidas do setor do cooperativismo de crédito no Brasil. O personagem Umbigo Rei foi criado para servir como elemento de comunicação dirigida no ano em que a Banricoop completou 60 anos. O projeto foi criado em conjunto com as equipes da Banricoop (Cirilo Thomas, Miriam Cecchin e Luciane Rotta), da Editora Artes&Ofícios (Luiz Fernando e Camila Kieling), da Radioativa (Marcelo Figueiredo) e de um grupo de profissionais de teatro (Cláudia De Bem - Direção), Liane Venturella (Produção) e Mirco (iluminação e som). A seguir, alguns detalhes do case.

Umbigo Rei - As fontes


Umbigo Rei, os inspiradores.

Sérgio Buarque de Holanda, autor do magistral ensaio Raízes do Brasil afirma: “à frouxidão da estrutura social, à falta de hierarquia organizada devem-se alguns dos episódios mais singulares da história das nações hispânicas, incluindo-se nelas Portugal e o Brasil. Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou a indolência displicente das instituições e costumes. As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram continuamente no sentido de separar os homens, não de os unir. A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno”.

Umbigo Rei - A palestra-show.


A palestra-show “Umbigo Rei no país dos umbigóides” conta com ironia e bom-humor uma breve história do individualismo nacional. Escrevi o texto depois de reler Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Caio Prado Júnior e Roberto DaMatta. O personagem Umbigo Rei é um umbigóide típico, destes que a gente encontra com frequência, furando as filas dos supermercados, abrindo latas de refrigerante e embalagens de balas nas sessões de cinema ou tentando levar vantagem em tudo, sempre que possível. É um típico herdeiro das formas de convívio e das idéias que portugueses e espanhóis trouxeram para o Brasil. A palestra-show “Umbigo Rei no país dos umbigóides” aborda o imediatismo, o utilitarismo e o individualismo tupiniquim. Foi apresentada para associados da Banricoop, funcionários do Banrisul e convidados especiais, em Porto Alegre, no Teatro Bruno Kiefer e no auditório da Livraria Cultura, em Pelotas, no Teatro da Universidade Católica, em Rio Grande, no Teatro Avenida.

Umbigo Rei - O livro.


A ação institucional da Banricoop culminou com o convite a 17 autores de renome nacional para que respondessem a seguinte pergunta: Umbigo é nosso rei? Em 30 dias, recebemos artigos, poemas, ensaios e crônicas o que resultou na publicação de uma coletânea intitulada “Umbigo é nosso rei?”. Participaram do livro: Affonso Romano de Sant'Anna, Celso Gutfreind, Cláudia Laitano, David Coimbra, Diana Corso, Eliane Brum, Fabrício Carpinejar, Juremir Machado da Silva, Leonardo Brasiliense, Luís Augusto Fischer, Luiz Antonio de Assis Brasil, Luiz Carlos Merten, Marcelo Carneiro da Cunha, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Moacyr Scliar e Tatata Pimentel. Umbigo é nosso rei? foi editado pela Artes&Ofícios e teve uma tiragem de 5.000 exemplares. Uma parte desta tiragem foi comercializada nas principais livrarias do país.